3a Parte - Conexões Possíveis

Na primeira parte deste trabalho apresentamos um estudo introdutório ao pensar chinês, os problemas de interpretação, sua estrutura e suas possíveis relações conceituais com a filosofia grega. Em seguida, discutimos a formulação da idéia de justa medida no confucionismo, seus desdobramentos e sua concretização na formulação de um texto específico, o Zhong Yong, considerado o “manual” desta mesma justa medida chinesa.
Agora, nesta segunda parte, analisaremos as conexões possíveis entre este saber chinês e o grego, privilegiando o seu aspecto identitário. Faremos, ao longo de nossa exposição, a apresentação da justa medida aristotélica (assunto já bastante discutido na academia e devidamente abordado no texto de Muzellec (1998), que nos serve de base) para não tornar nosso trabalho desnecessariamente exaustivo. Da mesma maneira, algumas citações já feitas do texto do Zhong Yong repetir-se-ão a seguir, quando for ocasião de correlacioná-las com o texto Aristotélico. Nossa investigação, como já foi citado, estrutura-se em torno do Livro II da Ética a Nicômaco, com a qual buscaremos realizar uma análise homeomórfica em relação aos seus principais conceitos. Ocasionalmente, porém, nos serviremos de outras passagens do texto para completar os conteúdos à serem discutidos. A estrutura empregada nesta segunda parte da tese buscará correlacionar, de modo gradual, as seções referentes de ambos os textos aos pontos definidos para apresentar o desenvolvimento da concepção de justa medida. Assim é, pois, que o encadeamento das idéias privilegiará, justamente, uma abordagem intercultural, propondo as associações necessárias para a demonstração de nossa hipótese.
Inicialmente, investigaremos os processos geradores da idéia de justa medida em ambos os pensadores, e da natureza de sua constituição; em seguida, trataremos dos meios pelos quais ela se estrutura, e do que a compõe; por fim, de como então se realiza sua aquisição e de que maneira pode-se afirmar que ambas as idéias de justa medida (chinesa e grega) inferem o mesmo conceito - mas seu modo de aplicação variará em função da interpretação que se lhe dá, dos métodos elaborados para atingí-la e do contexto em que se insere.
Por fim, apresentaremos nossas conclusões sobre o tema proposto, e sua valia para o estudo intercultural da filosofia. Aqui, vale a assertiva do velho mestre: “o caminho nunca está longe do ser humano; se dele pudéssemos nos separar, então não seria o caminho” (ZY, 1 e 13).